O meu blog é assim uma espécie de casa virtual onde recebo, com muita alegria e prazer, todos os amigos que por aqui passam… Alguns gostariam de ficar mais tempo, conversando, dissertando, filosofando, articulando sobre vários assuntos, mas… eu só tenho uma assoalhada e por isso decidi, a partir de Dezembro, convidar uma/um Amiga/o por mês para falar (escrever) aqui o que entender com muito mais tempo de audiência da minha parte e de todos os amigos que habitualmente me visitam…
Este mês a convidada é a LUSIBERO que me deu a alegria de aceitar o meu convite, o que me deu muita honra!
Por isso, hoje, Zambeziana Convida……………… LUSIBERO!
De Tudo Um Pouco….
”PEDRAS… SERES INERTES QUE “FALAM”…
Ao ver a revista “Super Interessante” de Maio, deparei com a fotografia da capa que é a das estranhas pedras de STONEHENGE, na Grã-Bretanha. O pensamento, este valioso atributo humano, levou-me a uma divagação, no mínimo, estranha; vou falar de pedras! Sim…de pedras! Diz a mitologia que quem criou o Homem foram os deuses Deucalião e Pirra, ao atirarem pedras ao chão, por cima das suas próprias cabeças…Reparem que parto de um pressuposto mitológico… Talvez por isso sejamos um tanto duros, selvagens até, mesmo que civilizados. Mas não será o homem civilizado um puro selvagem, só que mais experiente e sábio? Calma que eu estou a pensar…E esse é que é um problema sério, porque chego à conclusão de que não existe um modo de pensar ou agir, por mais antigo que seja, que possa ser cegamente aceite! É evidente que sendo nós todos, (nós, os humanos) dotados de razão,”cada cabeça, cada sentença”…
Assim sendo, dei comigo a pensar nas pedras da capa da revista…esses bocados de matéria inerte, que arredamos do nosso caminho, quando nele se atravessam, despudoradamente…É bom não esquecer que essa matéria é uma imagem constante do Universo, plena de conotações e ligações à ideia do “BIG-BANG”, momento da explosão da vida, no nosso planeta. De onde vieram esses ancestrais seres sem vida, na verdadeira acepção da palavra, de origem granítica, basáltica, calcária que, ao longo dos milénios foram ganhando forma nas paredes das nossas casas, castelos, monumentos, catedrais, mosteiros, estradas? Se adquiriram vida, que não tinham! Foi porque nós, humanos, fomos dotados da capacidade de entender que as pedras, afinal, até “falam”… Falam? Como é isso? Para mim, elas falam através das vozes daqueles, cujas mãos, escorrendo sangue, as trabalharam, transformando-as nas belezas que os nossos olhos, hoje, contemplam e que acalmam as nossas ânsias e nos enchem os olhos de satisfação…Foi essa pedra, matéria informe de todas as partes do Universo que, por força da inteligência humana, fez aparecer obras majestosas como o Mosteiro da Batalha, o Convento de Mafra, as Pirâmides do Egipto, os monumentos das civilizações Inca, Maia e Azteca, as enigmáticas torres circulares dos Himalaias…Começo, então, a “viajar” pelas linhas geométricas da rectidão e do amor para conseguir “ver” toda a espécie de vida que os tais seres inertes, hoje, possuem…
Tão inertes e informes que, ao longo dos séculos têm sido objecto da atenção de escritores, poetas, escultores, músicos, filósofos e tantos outros criadores de arte. Não fosse assim e não teríamos, agora, perante os nossos olhos o “DUOMO” (catedral) de Milão,”Notre Dâme de Paris”, o Convento de Cristo, em Tomar, “a 9ª Sinfonia de Beethoven”, os jardins suspensos da Babilónia, a moderna Biblioteca de Alexandria, a Grande muralha da China, o Taj Mahal, os mosteiros dos monges budistas, dos Himalaias, encarrapitados nas montanhas desta região do Globo…Interrogamo-nos, sobretudo, sobre a capacidade humana de fazer FALAR estas pedras, a cada milionésimo de segundo. E pergunto-me: não sou eu, também, um pedaço de pedra, susceptível de aperfeiçoamento, nestas tremendas questões com que me debato?
Continuando a minha viagem pelo mundo das pedras, quero mostrar-vos como, até os poetas lhes rendem homenagem. O saudoso e difícil Teixeira de Pascoaes, escritor-poeta que viveu o SAUDOSISMO, na serra do MARÃO, no período entre 1877 /1952, no poema “NOVA LUZ”, e com a lucidez de quem se debate com as interrogações permanentes que configuram a luta entre a Verdade e a Mentira, a Clarividência e o Segredo, diz isto: (…) “Tudo o que é material como a rocha erma e calma/Querendo e desejando-o, é luz e sonho e alma… “. E PADRE VIEIRA, o “Imperador da Língua Portuguesa”, como lhe chamou Pessoa, ao defender os índios do nordeste brasileiro da escravatura e da exploração de que eram vítimas, por parte dos colonos portugueses que os consideravam “ PEDRAS”, escreveu o texto seguinte:”Arranca o estatuário uma pedra dessas montanhas, tosca, bruta, dura e informe. E depois que desbastou o mais grosso, toma o maço e o cinzel e começa a formar um homem: primeiro, membro a membro e depois feição por feição, até à mais miúda; ondeia-lhe os cabelos, alisa-lhe a testa, rasga-lhe os olhos, (…) No fim, aí está um Homem perfeito, talvez um santo, que um dia se pode por num altar!” Era uma pedra antes, não era?
Isto demonstra que todos nós carecemos de aperfeiçoamento para nos tornarmos mais válidos podendo, depois, difundir, irradiando-a, a luz de cada um de nós. Nunca o faremos sozinhos, não nos iludamos…Toda a sociedade tem obrigação de contribuir, para que o ser racional e emotivo possa transformar-se num monumento. Devemos, por conseguinte, elevar a voz contra as pedras da corrupção, da injustiça social, da prepotência, do autoritarismo, dos cinismo e mentira, do enriquecimento ilícito e escandaloso, emergir do caos, em suma, para um combate feroz contra as trevas.
Nós, Homens, devemos ser luz irradiante, entre as “PEDRAS”…Deveríamos…
Mas basta ver o sacrifício desumano dos operários a quem se refere SARAMAGO, no seu “MEMORIAL do CONVENTO”, para encontrar as pedras no caminho do Homem: era de Pêro Pinheiro que os mesmos, em atitude épica, levavam as pedras, às costas, morrendo de fome e de doença, até Mafra, para cumprir o desejo megalómano-egoista de D.JoãoV…Outras pedras, como os “menires” e as misteriosas elevações de STONEHENGE, levam-me, em viagem contínua, até, por exemplo, à Ilha da Páscoa ou às Pirâmides do Egipto, na procura de novas- velhas verdades… Que “pedras “ por ali andaram? Qual SÍSiFO, conduz o Homem a sua pedra, montanha acima… Quando julga ter a tarefa concluída, lá vem o pedregulho montanha abaixo… E toca a recomeçar! É assim a VIDA: UM recomeço, sistemático e contínuo para chegar à “META”, que é a concretização do SONHO!
De quem é a culpa de toda esta estranha “viagem” que acabo de fazer?...De TALES de MILETO, inventor da Filosofia, como escola de pensamento! Que me perdoem os “filósofos”, se estiver errada…Apesar de tudo, discordo dele, eu “bicho da terra”, pequeno e insignificante, pois entendo que, desde que o Homem foi dotado da capacidade de pensar, aí começou a filosofar…
Maria Elisa Rodrigues Ribeiro
maria.elisa.ribeiro@iol.pt
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