sábado, 30 de janeiro de 2010

O Tempo

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Dei por mim
Quase no final do caminho…
Como o tempo passa tão voraz!
Mas o tempo não passa igual.
Ai, se eu pudesse voltar atrás…
Horas felizes que passaram a correr
Desfizeram-se como a espuma do mar.
Mas as outras, tão diferentes?
Têm horas, minutos, segundos
Como as demais…
Mas não são iguais!
A dor para nosso cansaço
Magoa-nos lentamente
Vai fazendo seu ninho
E para maior tormento
Vai passo a passo…
Afinal, o tempo é diferente
No passar.
Dura um lamento
Ocupando maior espaço
No tempo
Do nosso caminhar.
Não, o tempo não é igual.
Há horas pequenas
Cheias de riso e alegria!
É o tempo da felicidade.
Mas há outras
Para nosso mal
Cheias de dores e penas
Difíceis de passar
Grandes como o mar… rasgadas, vazias
Sem finalidade.
Mas o que é o Tempo
Que não sei definir?
Diferente nas horas
E no passar…
Apenas um espaço a rir
E uma vida a chorar…




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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Dias

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Solange


Tem uns olhos enormes, azuis, não sei se espantados com o mundo se com a vida! Olha tudo atentamente e quando fecha as longas pestanas há salpicos do Índico onde a maresia ficou presa. Com o princípio do ano mudei-a de lugar. Estava na papeleira sentada por cima dos meus livros preferidos com um ar aborrecido com uma leve ruga na sua testa mimosa…
O cabelo loiro ligeiramente frisado, apanhado em cima da sua cabecita com um laço igual ao vestido, já não esvoaçava com o vento e o sol não adormecia naquele campo de trigo tão fofinho… Juraria que há pouco tempo lhe ouvi um soluço… Como é complexa a alma feminina!
Decidi sentá-la a meu lado! Compôs a roda do vestido de um xadrez miudinho preto e branco animado com uma espiguilha colorida, onde há um bolso com dois corações muito juntinhos… Suspirou feliz! O traço vermelho que é a sua boca abriu-se e esticou-se até às orelhas. Reparei que corou um pouco… Fiz de conta que não vi…
O ruído dos meus dedos no teclado do computador não lhe agrada… vai suportando!
De vez em quando olho-a! Ela tranquiliza-me, simplifica-me; explica-me a vida sem nada dizer porque já viu muito… Tem uma serenidade, uma nobreza que guarda no seu coraçãozito!
Não lhe conheço nenhum capricho para além de gostar dos banhos de sol e de velar o meu sono toda a noite… Creio que as nossas duas almas continuam sensíveis, muito vivas, para que o dia de hoje possa ser diferente do de ontem e do de amanhã. Todos estes cambiantes me enternecem…
Ah! Ainda não vos disse o seu nome: chama-se Solange!
Chegou a minha casa numa manhã perfumada de Abril, no dia do meu aniversário. Vinha num embrulho sofisticado, elegantemente acompanhada com um delicioso cartão que era quase o seu bilhete de identidade… Quando a vi lancei um grito de alegria e ela olhou-me cheia de ansiedade…
- Chama-se Solange, para substituir a que não tivemos…
Olhou-nos espantada e com aquele olhar apoderou-se de nós… para sempre.
Eu, que rio sempre, chorei como uma criança…
- Ah, Miúda, minha Miúda…
Suspiro… Fitou-me demoradamente com os seus olhos claros que hoje me pareceram húmidos…
Sim, eu sei muito bem o que eles me querem dizer: estou aqui para que continues a sonhar, a acreditar nas estrelas e no amor...


Por entre as cortinas do meu quarto vejo um céu muito azul num dia frio de Inverno… Parece uma porcelana… Há perfumes de rosas vindos não se sabe de onde… um perfume quente, delicioso que nos envolve às duas…
Trocámos o olhar e vi no seu rosto de boneca uma ternura tão grande, como se alguém a tivesse esquecido no bolso do seu vestido onde há dois corações juntinhos…
Foi a última prenda do Eugénio…

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Prémio Lobinho


Muito obrigada ao Lobinho por me incluires na lista dos galardoados.
:)


Passem o prémio a pelo menos cinco pessoas que entendam reunir as várias características do mesmo, e respondam a estas perguntas numa forma saudável de conhecimento.
Passo para: Lusibero, Terra de Encanto, Chora Que Logo Bebes, Reflexões e Outras Divagações, Vanuza Pantaleão/Obra Literária


a) Tens medo de quê?
Da doença.

b) Tens algum guilty pleasure?
Chocolate, muito chocolate...

c) Farias alguma "loucura" por amor/amizade?
Pelo meu filho, faria tudo.

d) Qual o teu maior sonho? [Não vale responder Paz, Amor e Felicidade ;) ]
Assistir à felicidade do um filho e à realização dos seus projectos.

e)Nos momentos de tristeza, abatimento, isolas-te ou preferes colo? (Não vale brincar)
Prefiro meter-me na minha concha.

f) Entre uma pessoa extrovertida e outra introvertida, qual seria a escolha abstracta?
Extrovertida, completamente.

g) Sentes que te sentes bem na vida, ou há insatisfações para além do desejável?
Estou contente com tanto que a vida já me deu.

h) Consideras-te mais crítico ou mais ponderado? (mesmo sabendo que há críticas ponderadas)
Ponderadamente crítica.

i) Julgas-te impulsivo, de fazer filmes, paciente ou... (define o que te julgas no geral)
Sou impulsiva…mas não faço filmes.

j) Consegues desejar mal a alguém e eventualmente concretizar? (Responder com sinceridade)
NÃO! NÃO!

k) Conténs-te publicamente em manifestações de afecto (abraçar, beijar, rir alto...).
Se os sinto, não os escondo… o amor é para ser manifestado.

l) Qual o lado mais acentuado? Orgulho ou teimosia?
Sou muito teimosa!

m) Casamentos homossexuais e/ou direito à adopção?
Sou apenas contra a palavra “casamento”! Que desde sempre significou “casal”, “par”. Chamem-lhe união, contracto, o que quiserem… De resto, cada um faz o que entender. Quanto à adopção… porque não? Não há tantos filhos de pais separados? Que mais tem ser educado por dois pais ou duas mães? Desde que haja amor… e respeito!

n) O que te faz continuar com o blogue?
Atingir um determinado objectivo…

o) O número de visitas ou de comentários influencia o teu blogue?
Absolutamente nada.

p) Na tua blogosfera pessoal e ideal, como seria ela?
Está bem nesta diversidade cultural, pessoal e lúdica… com muitos selinhos mas sem joguinhos!

q) Deviam haver encontros de bloguistas? Caso sim em que moldes e caso não porquê?
Para quem gosta de encontros, acho que sim, uma vez por ano! Mas há quem prefira o seu cantinho…

r) Sabes brincar contigo mesmo e rir com quem brinca contigo? (Não vale responder com ironias)
Eu rio de mim, comigo e faço humor com as situações e devo dizer que é um bom trunfo!

s) Já agora, qual ou quais os teus principais defeitos?
A teimosia…

t) E em que aspectos te elogiam e/ou achas ter potencialidades e mesmo orgulho nisso?
“És líder!” Ouvi sempre desde os meus 17 anos e eu pensava que não até a vida me mostrar que era verdade (sem falsas modéstias.)

u) Entre uma televisão, um computador e um telemovel, o que escolherias?
Gosto mais das conversas pessoais…mas, talvez o computador. DETESTO telemóvel!

v) Elogias ou guardas para ti?
Elogio muito… não faço economia deles e nem da amizade!

w) Tens a humildade suficiente para pedir desculpa sem ser indirectamente?
Se entendo que errei, peço desculpa directamente.

x) Consideras-te, grosso modo, uma pessoa sensível ou pragmática?
Demasiado sensível!

y) Perdoas com facilidade?
Sou explosiva…mas com um coração de passarinho, como dizia o meu Pai!

z) Qual o teu maior pesadelo ou o que mais te preocupa?
Partir… sem ver o meu Filho com uma família constituída.

Selo - Um Pouco de Mim


Obrigado à amiga Fernanda do blog A Casa do Rau.



As regras são: Postar o selo da Promoção
Responder "Em 2010 eu quero..."

1º. Ver a felicidade do meu filho e os seus projectos realizados.

2º. Saúde, muita, para mim e para todos os meus amigos.

3º. Que o mundo encontre um rumo na paz e na concórdia entre todos.

Agora devo indicar apenas 3 pessoas para dar seguimento:
Buxexinhas, Maria Cusca, Blog da Zizi

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Guarda-chuva


Detesto os dias contínuos de chuva… aborrecidos e desconfortáveis. Ainda por cima tenho que “tomar conta” daquele objecto irritante, ridículo, indispensável… que fica sempre esquecido no café, no cabeleireiro ou numa loja qualquer… O guarda-chuva, que parece atrair o bom tempo, quando o levamos para a rua porque o tempo prometia água… O das cenas cómicas em dia de ventania, virado ao contrário, feito num molho de ferros e trapo…
O guarda-chuva é um venerável traste arqueológico, uma instituição que vem da lonjura dos tempos para nos infernizar a vida!
Nas velhas civilizações orientais – na China, na Assíria, no Egipto dos Faraós – já lá andava a grande umbela que tapava mais do sol do que da chuva e era um sinal de respeito sagrado, a proteger os reis em cortejos solenes… Do guarda-sol dos países quentes nasceu, por semelhança, o guarda-chuva do Ocidente… Diz-se que fomos nós, Portugueses, que trouxemos da Índia e da África o guarda-sol que depressa se transformou em guarda-chuva.
Por volta de 1600 a Inglaterra fez dele uma espécie de emblema nacional. Em meados do século XVII era um objecto quase de artilharia pesada… Tinha um cabo de um metro, dez varetas rígidas, de barba de baleia, medindo cada uma 80 centímetros… Pesava cerca de três quilos…Claro que havia os lacaios!!
Como era caríssimo, passava de pais para filhos, numa herança preciosa…
Nesse tempo tinha pelo menos uma vantagem: as pessoas não se esqueciam dele por toda a parte. O guarda-chuva transpôs também os séculos triunfalmente. Em França, no século XVIII, aparecia a elegante sombrinha, forma feminina e melindrosa do guarda-chuva pesadão, e com êxito estrondoso.
Com o andar do tempo e a evolução das sociedades o guarda-chuva conquistou um público cada vez maior. Esse traste burguês é definitivamente consagrado no século XIX, adaptando-se às circunstâncias, tornou-se mais cómodo e portátil. As barbas de baleia foram substituídas por hastes finas de aço flexível, criou-se a forma côncava, de goteira… A Inglaterra, senhora de um vastíssimo império colonial, importa do mesmo, a preços “da chuva”, material variado para criar uma indústria prometedora das umbelas: bambus, canas da Índia, marfins, sedas naturais, alpacas. É então uma grande potência produtora dos chapéus-de-chuva e cria na sua população o gosto arreigado pelo guarda-chuva. Não podemos conceber a figura típica do inglês da política, das finanças ou dos negócios - grave, discreto e fleumático – sem o guarda-chuva inseparável que é um sinal exterior da sua dignidade, do seu carácter.
No princípio do século XX é o delírio do mundo feminino, a paixão das sombrinhas, de todos os tamanhos e feitios, com rendas, laços, folhos, lantejoulas, plumas, etc. Tornou-se objecto de vaidade e conquistas amorosas.
Com o tempo, a sombrinha de luxo deixou de fazer sentido. O guarda-chuva passa a ser um objecto indispensável e adaptável às necessidades do tempo moderno: prático, envolto em nylon ou então, melhor ainda, articulado, com mola para abrir e fechar, pequeno que cabe na carteira de uma senhora, atravessa corajosamente o século XX e cá está ele nos novos tempos, traste venerável, humilde na sua forma actual, sem poesia mas, o companheiro indispensável das correrias que nos atrapalha a vida mas nos protege de uma valente constipação e que eu vou deixando espalhado por tudo quanto é sítio…
Alguém disse que o guarda-chuva é o barómetro da memória… pois a minha deve andar gasta a avaliar pela quantidade de umbelas (gosto desta palavra) que tenho ali em fila no bengaleiro prontas a desaparecerem, nestes dias contínuos de chuva, em qualquer café por aí…

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Os Meus Poetas (VI) - Fernanda de Castro



Fernanda de Castro é outra das poetisas da minha adolescência que escolhi pela simplicidade e suavidade dos seus poemas. Talvez por isso, a sua obra seja, ainda hoje, tão apetecível!
“O tempo não passou por Fernanda de Castro, ela sim, é que passou indemne por ele” (Fernanda Botelho).
Fernanda de Castro ou Maria Fernanda Teles de Castro e Quadros, nasceu em Lisboa a 8 de Dezembro de 1900 e faleceu nesta mesma cidade a 19 de Dezembro de 1994.
Publica a sua primeira obra em 1919, “Antemanhã”, um livro de poesia. Colabora com o “Diário de Lisboa” desde o momento da sua fundação. Em 1922, casa com o jornalista António Ferro que, mais tarde viria a ser ministro de Salazar. Faz imensas viagens ao Brasil e a alguns países da Europa. Em 1935, organiza com o marido, na Suíça, a “Quinzena de Arte Popular Portuguesa”
Em 1945, publica o romance “Maria da Lua” que foi galardoado com o Prémio Ricardo Malheiros da Academia de Ciências de Lisboa (é a primeira mulher a recebê-lo!).
Em 1963 cria o Teatro de Câmara António Ferro, em homenagem a seu marido que morrera em 1956. Em 1969 recebe o Prémio Nacional de Poesia da Secretaria de Estado da Informação e Turismo, e em 1990 (com noventa anos) é-lhe atribuído o Prémio da Literatura Infantil da Fundação Calouste Gulbenkian. Para além da riqueza da sua vida intelectual e cultural, Fernanda de Castro foi também tradutora e em 1964, publicou um livro de introdução à botânica, ciência pela qual sempre se interessou: “A vida Maravilhosa das Plantas”.
Não resisto em transcrever aqui um pequeníssimo extracto de uma carta a seu marido do livro “Cartas para além do Tempo”: “Casámos por procuração. Tu estavas no Brasil à minha espera e foi o Gago Coutinho, que acabava de ser apoteoticamente recebido no Rio de Janeiro, uma das testemunhas desta procuração. Quanto a mim, casei melancolicamente com o meu cunhado doutor Augusto Cunha, na Igreja de Santa Isabel. Dias depois embarquei no Arlanza. E agora, vou dizer-te um segredo que, por falta de coragem, sempre te escondi: na manhã em que cheguei ao Rio os meus nervos estavam de tal forma destemperados que, durante um segundo, um instante, me passou pela cabeça : “ E se eu agora chego lá e já o não conheço?” É claro que te reconheci imediatamente e fiz troça de mim mesma, sozinha, encostada à amurada do barco. Lá estavas tu no cais rodeado por vários amigos e por uma senhora com um grande ramo de flores na mão que me era com certeza destinado. Nesse momento, posso jurar-te que o teu coração não batia mais do que o meu e que, quando nos abraçámos, sabíamos ambos que era para sempre.”

Os Anos São Degraus

Os anos são degraus, a vida a escada.
Longa ou curta, só Deus pode medi-la.
E a Porta, a grande Porta desejada,

Só Deus pode fechá-la,
Pode abri-la.


São vários os degraus; alguns sombrios,

Outros ao sol, na plena luz dos astros,
Com asas de anjos, harpas celestiais.

Alguns, quilhas e mastros
Nas mãos dos vendavais.


Mas tudo são degraus; tudo é fugir
À humana condição.

Degrau após degrau,
Tudo é lenta ascensão.

Senhor, como é possível a descrença,

Imaginar, sequer, que ao fim da Estrada

Se encontre após esta ansiedade imensa

Uma porta fechada
E mais nada?


(in “Asa do Espaço”)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

A Chuva


A menopausa significa o fim da idade fértil da mulher. Os ovários vão diminuindo gradualmente a sua função. A idade do começo deste novo ciclo, ou fase, varia de mulher para mulher. Infelizmente, ainda hoje há mulheres que, quando chegam a esta nova etapa da vida, afirmam: “Já não sou mulher”. Que conclusão mais errada!
Eu, particularmente, para além dos calores e afrontamentos habituais, dei-me bem. Encarei tudo como um processo natural e até com um certo alívio de outras coisas menos desejáveis.
Hoje, esclarecida, a mulher tem uma óptima qualidade de vida!
Mas… em Quelimane, há mais de cinquenta anos, o problema era complicado… As mulheres nestas situações lamentavam-se umas com as outras: “Chegámos ao fim da linha”. Quase sempre os maridos pagavam a “factura”… Elas iam ao clínico geral, vinham de lá com uns calmantes e saridon para as dores de cabeça, para além do conselho insistente: “Muita distracção!” O stress e a depressão estavam ainda fora do vocabulário médico….
O meu Pai tinha um amigo cuja esposa tinha chegado ao climatério e em desabafos constantes lamentava-se:
- Está impossível de se aturar. Irritada, pega com tudo e com todos, não está contente com nada e agora até tem umas manias…
- Que manias? - Perguntava o meu Pai curioso.
- Imagine que agora tudo cheira mal lá em casa e vai daí deita tudo fora! Há dias disse-me: Não durmo mais nesta cama, o colchão cheira mal… Um colchão comprado há menos de um mês na Galeria Ducal? Pode lá ser?
- Amigo - brincava o meu Pai - cuidado se ela o enjoa e o deita fora…
- Ah! Não sabe o que eu passo… Chega a ir pela janela fora o conteúdo inteiro da geleira comprado na véspera, ou mesmo no próprio dia, no Monteiro Giro e no talho… Não há paciência nem bolsa que aguente…
No rés-do-chão do prédio onde vivia este casal morava uma antiga colega minha casada de fresco que confirmava todas estas maluqueiras… Contou-me ela certo dia:

- Há tempos vi pela janela os meus empregados banquetearem-se com uma bola de queijo flamengo e perguntei-lhes: há festa? Um deles veio confidenciar-me:
- Xi, senhora, agora do primeiro andar todos os dias chovem coisas…
- Que coisas? - Perguntei.
- Tudo! Fiambre, queijo, fruta, carne, camarão e lagostim…
- Lagostim? Então avisa quando isso acontecer.
Passado pouco tempo veio dizer-me:

- Senhora de cima hoje comprou lagostim grande… se calhar logo vai chover….

E assim foi!
- Senhora, senhora… traz bacia grande….
E os dois apanhávamos o delicioso manjar… aos quilos.

À noite, quando o marido da minha amiga chegou do trabalho, viu uma mesa em festa com velas e flores… Espantado, perguntou:

- Esqueci-me de alguma data especial?

- Não, não - respondeu ela sorridente.
E trazendo uma enorme travessa de lagostins grelhados, da cozinha, rematou:

- É que hoje por aqui caiu uma chuva diferente!


quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Zambeziana Convida...


Em Dezembro passado, iniciei estes convites para a minha única “assoalhada” com a grande LUSIBERO que me deu a honra de aceitar entrar na minha humilde Palhota.
Foi um dos momentos mais brilhantes do ZAMBEZIANA.
Claro que eu gostaria de convidar todos de uma vez e fazer uma grande festa a “FESTA DA PALAVRA” mas não é possível dada a exiguidade do espaço.
Por outro lado, teremos uma maior e melhor oportunidade de “saborearmos” atentamente o que escreve cada um dos meus convidados/as.

A Manuela Baptista é uma Amiga especial. Um dia os nossos caminhos cruzaram-se e eu dei conta que havia um espaço junto ao mar que devia ser mágico… Entrei! E tal como uma criança maravilhada, abri os olhos de espanto e fiquei pendente das suas palavras. “Conta, conta mais…” E não me canso de ler histórias e contos maravilhosos onde nunca sabemos quando acaba o sonho e começa a realidade… porque a Manuela esconde o que é triste, verdadeiro e chocante com um papel fino da magia e fantasia, como se fazem com os rebuçados…
E fica sempre um desejo: voltar e voltar, voltar sempre àquele canto que tem “o mar por fundo”!
Obrigada Manuela!

Hoje, Zambeziana convida... Manuela Baptista!


"CORAÇÕES DE OURO EM REINOS DE LATA"

Há muitos, muitos anos que eles voltavam sempre no mesmo dia, vindos de longe, belos, majestosos, o coração em festa e junto ao peito uma caixinha fechada forrada a seda pura, contendo um secreto presente. Sabiam onde se dirigir, guiados por um amor que os cativara e cativos eram de um amor assim.
Às vezes encontravam-no junto ao portão de um condomínio de luxo, outras, numa prisão, num carro abandonado, num bairro degradado, no quarto de uma pensão.
E pegavam-lhe ao colo, cantavam-lhe uma canção de embalar, faziam-no rir, vestiam-lhe casaquinhos de lã e botinhas de pele de carneiro e contavam-lhe histórias para ele não ter medo do escuro.
Mas com o passar do tempo a sua busca tornou-se mais complexa e quando chegavam, já ele estava crescido, com um olhar de medo e ouviam o assobiar das bombas, o estampido das armas, a intolerância que gera o ódio, a ganância, a corrupção, a miséria.
O coração dos três Homens belos e majestosos, vindos de muito longe, tomava a palidez das terras por cultivar e as caixinhas fechadas forradas a seda pura, enchiam-se de lágrimas afogando os secretos presentes. E chegou um ano em que não regressaram, no mesmo dia, nem noutro dia qualquer.
Depois, foi um frio intenso que invadiu toda a terra, como se o sol tivesse perdido todo o seu fulgor. Os troncos das árvores quebraram, as pétalas das flores ficaram queimadas, os rios e os mares gelaram e os seus habitantes interrogaram-se consternados e tristes “ Que fizemos nós, para que esta solidão nos invadisse, para que este manto gelado nos cobrisse, para que até o respirar se torne penoso, o caminhar seja quase impossível e fazer crescer o trigo seja novamente uma tarefa de escravos?”. Os homens da terra eram pobres e sentiam-se vazios.
O tempo passou, estendeu-se como o nevoeiro por cima do mar, como um tapete vermelho que se desenrola, como uma toalha de linho sobre uma mesa de festa.
Uma noite de lua nova em que as estrelas brilhavam com mais fulgor e o silêncio cobria todas as coisas, ouviu-se um clic, um clac e um terceiro clic, assim como uma caixinha que se abre. Os homens da terra agitaram-se no seu sono sem sonhos, mas não acordaram e pela estrada mais suja, deserta e gelada caminhavam os três, os corações ansiosos e saudosos pela ausência, mas com uma esperança incontida no peito.
E no bairro mais pobre, na casa de lata reencontraram-no, guiados por um amor que os cativara e cativos eram de um amor assim.
E o menino riu como sempre ria e eles riram com ele e dentro do peito dos três Homens vindos de longe, belos e majestosos, batiam felizes, três corações dourados.
Lá fora o gelo derreteu e os homens da terra vazios e tristes começaram a sonhar.


Manuela Baptista
Estoril, 30 de Dezembro de 2009
http://historias-com-mar-ao-fundo.blogspot.com/



segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Selo Comemorativo das 50000 Visitas

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Este selo é vosso: de todos os amigos que por aqui passam, dos seguidores e dos que espreitam. O mérito é todo vosso que contribuíram para este número “gordo”! Levai-o!

Peço-vos apenas uma coisa: que ao olhardes a Palhota vos lembreis que aqui há sempre um coração Amigo que espera por vós.

O abraço é meu e a gratidão também!

Graça (Zambeziana)

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

365



Nas nossas mãos abertas
Como para o ofertório

Eis os nossos 365 dias e 365 noites!
365 e mais ainda
De decisões e rupturas,
De sofrimentos e alegrias,
De sorrisos e consolações.
Recebe tudo, Senhor!
365
Amigos que partiram para o outro lado
E nós, deixados sós,
Com os rastos da sua ausência
E o nosso amor em luto.
Recebe-os, Senhor!
365
Tentámos viver
Com a bondade em primeiro lugar
Mas se a maldade por vezes ganhou:
Perdão, Senhor!
365
Para nos tornarmos num homem
Para nos tornarmos numa mulher
Em que se lêem os traços
Do teu belo Rosto!
365
Obrigado por este tempo dado!
Que 365 dias venham ainda
E outras tantas noites
Para as enchermos de VIDA!