domingo, 27 de novembro de 2011

Em Tempo de Natal


A Lenda do Pirilampo

Dizem os sábios que a luminosidade do pirilampo está ligada a duas substâncias: a luciferina e a luciferasa. Estas duas substâncias, cada uma por si, não são luminosas, mas reagindo uma contra a outra produzem luz (a luciferasa provocando a oxidação da luciferina).
Antes da formação do oxigénio, há mais de três milhares de anos – continuam a dizer os sábios – o pirilampo era apenas um insecto negro, sem nenhum brilho. Mas quando o elemento gasoso apareceu, tornou-se uma “estrela” a saltitar na terra.
A lenda do Pirilampo é menos científica, mas mais poética.
Na noite de Natal, encontrava-se no presépio de Belém um pobre bichinho que, ao ver Nossa Senhora e São José em tamanha pobreza e desconforto, se comoveu. Não podendo fazer mais nada por eles, veio cá fora buscar um raio de luar que levou às costas, indo, pequenino e humilde, colocar-se aos pés da Virgem Maria. E quando o Menino Jesus nasceu, o pobre bichinho todo se regozijou por poder iluminar Aquele que acendeu as estrelas no céu e que, ao vir ao mundo, nem sequer teve a candeia dos pobres a clarear as trevas daquela noite cerrada.


O Menino vendo ali aquela luzinha a brilhar, sorriu para o bichinho e perguntou-lhe o que queria como recompensa da sua bondade e do seu amor.
-Queres que te dê as cores brilhantes do escaravelho?
E o pobre bichinho negro de nascença, respondeu-lhe:
-Não, meu Senhor!
-Queres que te dê, como às abelhas o poder de fabricar o mel dourado e doce?
E o pobre bichinho também não ambicionou os beijos das flores, nem aceitou habitar o palácio duma colmeia.
-Mas então, o que é que tu desejas, pede-me o que quiseres.
E o pobre bichinho disse o seu desejo, o seu sonho, o seu grande ideal:
-Senhor, só uma coisa desejo e te peço: deixa-me conservar sobre mim este raio de luz para que eu possa iluminar os viajantes nas trevas da noite e alegrar os que caminham sozinhos…
O Menino olhando-o com ternura disse-lhe:
-Pois seja como desejas!
E desde esse momento, o negro bichinho, até aí sem beleza nem brilho, passou a chamar-se PIRILAMPO e ficou sendo como uma estrela a saltitar pelos caminhos escuros e tristes da terra.
E a noite é menos escura quando luzem nas trevas aqueles pontinhos brilhantes, a solidão é menos triste quando os homens pousam os olhos cansados nestas estrelinhas dos caminhos.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Uma Cidade Perfeita


Era uma vez, num futuro longínquo, uma cidade quase perfeita. Não existiam malfeitores ou preguiçosos, não havia poluição, trânsito ou degradação. À primeira vista tudo era perfeito.
Na cidade quase perfeita, em frente de cada casa estava uma bandeira. As bandeiras podiam ser vermelhas, amarelas, brancas ou negras. E, apesar de não ser obrigatório, fazia parte do senso comum cada habitação ter a sua bandeira. E porquê? A bandeira indicava a cor da pele da família que aí vivia. E por existirem bandeiras com quatro cores possíveis é que a cidade era quase perfeita. Assim pensavam os seus habitantes. Mas seria?
As pessoas de pele branca só gostavam de bandeiras brancas e orgulhavam-se da bandeira que tinham em frente da sua casa. Da mesma forma pensavam as pessoas de outras cores.
As crianças de cores diferentes não brincava m juntas, os adultos de cores diferentes diziam “Olá” e “Bom dia”, mas a conversa já não chegava ao “Como está?”. Isto é, na cidade quase perfeita, a cor da bandeira servia para identificar quem eram os possíveis amigos.
Mas acontecia que, todos os meses, na cidade quase perfeita havia uma reunião com todos os habitantes da cidade. Era liderada pelo Presidente da Câmara e realizava-se num edifício do tamanho de dois estádios de futebol. O edifício chamava-se o “Individual”. Era assim que se procurava manter a quase perfeição da cidade. O Individual, que tinha apenas uma grande porta, simbolizava o poder e a singularidade da cidade.
Num certo dia de inverno, caía um forte nevão na cidade quase perfeita, mas nem por isso se adiou a grande reunião. Encontrava-se a cidade em peso no INDIVIDUAL, quando se ouviu um enorme estrondo, algo de sobrenatural. Um milésimo de segundo depois, todo o Individual ficou às escuras, gerou-se o pânico entre as 33.000 pessoas que começaram numa correria desenfreada para a grande entrada, só que a porta não abria.


Sem ver o seu auditório, o Presidente, com sangue frio, apercebeu-se do perigo da situação: numa cidade quase perfeita alguém tinha assistido a uma falha de electricidade; as pessoas atropelavam-se e poderia mesmo haver mortes por esmagamento. Rapidamente dá a mão à pessoa que estava a seu lado que, por sua vez, percebeu a mensagem: formou-se um grande cordão humano dentro do Individual. “Calma, calma”, ouviu-se. Sem olhar à cor da mão em que se segurava, apenas agarrando-a, sabendo que essa mão poderia salvar a sua vida, todos se acalmaram e a extremidade do cordão ao pé da porta conseguiu arrombá-la.
Lentamente, a multidão saiu do Individual para a neve gélida. Uma a uma, as pessoas apercebem-se de que a mão que seguravam não era da sua cor. No entanto, agarraram-na com igual força.
Dentro do Individual, às escuras, o cordão humano tinha permitido que as pessoas, uma vez cá fora, se apercebessem de que a sua cidade só era quase perfeita.
Até àquele dia, ninguém se tinha apercebido de que uma mão negra, branca, amarela ou vermelha tem a mesma força para agarrar, seja às escuras, seja às claras.

- Joana Rute (15 anos)

domingo, 6 de novembro de 2011

Esperança


Perguntaram-me um dia o que era a esperança. Respondi como sempre ouvira toda a vida – é a última coisa a morrer! Hoje, penso que a esperança é o motor de arranque do meu dia-a-dia, a razão pela qual coloco a minha mochila às costas, ainda cheia de sonhos, e parto à descoberta da felicidade. Da Felicidade? Depois dos cinquenta? Mas onde está escrito que há normas, idades e leis para se ser feliz?!? A felicidade é daqueles que sabem sonhar e descobrir um céu azul, apesar da sombra cinzenta de uma cruz. A felicidade é daqueles que já perderam tudo mas sabem encher as mãos de pétalas de sol e de luar.
A felicidade é daqueles que fizeram dos seus casulos de dor, o lugar onde acolhem aqueles que já não acreditam.
Realmente a esperança casou com a felicidade, teceram um manto transparente mas forte como uma teia que resiste a todas as intempéries.
Podem os maus ventos sacudi-lo, o sol crestar as pontas e a chuva torná-lo pesado e sem força que, ainda assim, permanecerá inviolável, unido na sua textura.


Os velhos do Restelo não se hão de calar, “já nada há a esperar, a vida vai levando tudo...”.
E a esperança? E os sonhos? E a felicidade que se viveu? – “passou, tudo passou...” – dizem eles. Mentira! Quem pode apagar a luz que se guarda na alma? Quem pode calar um coração que conheceu a sintonia do amor? Quem pode aprisionar os sonhos que andam por aí, soltos e esvoaçantes? Ah! Como a esperança é minha aliada! E quando eles gritam como aves agoirentas: já não há nada a fazer, eu sussurro baixinho – Há sim! Basta só esperar...