domingo, 17 de fevereiro de 2013

L I B E R D A D E




Liberdade é espaço,
É imensidão,
O livre correr da imaginação
Que nos oprime a mente!
É viver a vida plenamente
Sem peias,
Deixando vogar as ideias
Que nos libertam
Dos medos,
Das opressões,
Dos tiranos e dos mandões
Que nos apertam!
Liberdade é regeneração
Do passado ao presente,
É o fervor do sangue quente,
Correndo como cavalo à solta,
A centelha da revolta
Do homem novo,
O levantar do povo,
O renascer da mente.
Liberdade é o voo da ave
No céu limpo,
O levantar dos deuses
No Olimpo.
É o sorrir à esperança,
O sonhar
O livre brincar
De uma criança!


- Henrique Guerra

domingo, 3 de fevereiro de 2013

A Romaria

 O sol já ia alto quando a Ti Maria deu as últimas ordens à rapaziada.
Os cestos arrumadinhos a um canto, brilhavam em asseio e colorido. Quanta coisa boa levavam e que cheirinho apetitoso andava no ar…
- Eh, Manel, acorda homem que o rapazio já lá vai adiante junto à casa da Ti Zefa. De caminho chegamos atrasados…
A tia Maria, atarefada, punha tudo a toque de caixa. Lá adiante soam as concertinas e ouvem-se cantigas ao desafio. O calor aperta cada vez mais e o Manel, muito à surripiada vai deitando os beiços ao garrafão de vinho.
- Ó Joana, não vás tão depressa porque logo estás derreada e não há quem te ature…
Mas a gente nova quer lá saber dos conselhos dos velhos! É cantar, bailar e correr porque a tristeza não é com eles.
Ao longe, já se vêem os arcos do adro enfeitados com gosto e com arte. Estalam foguetes no ar e o coração da Joana bate mais depressa porque o Zé da Fonte já lhe prometeu ser seu par no primeiro vira, depois da Missa.
A Ti Maria mais o seu Manel dão uma volta pelas barracas a ver o movimento.

- Ai Manel que a gente vai para casa sem um tostão… - E os olhos admiram com sofreguidão aquela blusa de rendas, tão linda, igual à da mulher do regedor. Não que ela não quer ficar para trás e, às escondidas, a sua gorducha mão tira do saquito duas pesadas moedas.
- A alegria é bênção de Deus! – Dizia o prior do alto do seu púlpito… mas, quem o ouvia?
A Joana, à socapa, vai deitando umas olhadelas ao Zé, a Ti Maria sonha com a blusa que dirá bem com a saia preta e o Manel, ah esse, pensa com deleite no farnelzinho que ainda fumega lá fora…
O sol já se põe e a noite não tarda a chegar com o seu manto estrelado. Ainda há alegria e cantigas a jorro. A rapaziada não arredou pé e o vinho corre em quantidade.
A Ti Maria pensa que já não está para estas coisas… se não fosse a sua Joana, já há muito estaria de abalada.
- Ó Manel, falaste ao Ti Joaquim na compra dos borregos? Olha que é de aproveitar a maré antes que ele arrefeça.
O Manel não responde e com um pé continua a marcar o compasso do vira.
O dianho da mulher que nem em dia de romaria deixa de pensar nos negócios!



Já quase não há ninguém e é a Ti Maria que, mais uma vez, dá ordens, agora ordens de regresso.
- Ó mulher mexe-te que não vá acontecer apanharmos a madrugada no caminho… O teu pai que te ajude. Que é das compras que fizemos na barraca da Cândida?
E à confusão das compras e das arrumações, junta-se o cansaço de todos tornando o regresso mais lento, apesar dos resmungos da Tia Maria.
- Ó Ti João, espere por nós que também vamos. O Manel já está lá na frente com o Francisco e a mula.
Ninguém fala porque o cansaço não os deixa à vontade. A Ti Maria vai fazendo contas do que gastou e fica aflita com o resultado. O Manel pensa que o caminho de regresso é muito mais longo… ou será ilusão sua?
A Joana suspira e pede a Deus que o seu Zé não a esqueça e a peça em casamento na próxima romaria.

(Escrito com 17 anos, sem conhecer Portugal e publicado no jornal juvenil "Mais Além" do qual fui fundadora)